Comida e bebida

Brasiliense concorre a título de melhor cuteleiro da América Latina

A arte de criar armas a partir de barras de aço virou paixão em 2009 para o brasiliense Cléber Melo, de 42 anos. Tanto que alguns anos depois de fazer o primeiro curso na Universidade de Brasília, ele largou a profissão de gestor de tecnologia para se dedicar à criação de facas e ensinar cutelaria a outros amantes dessa atividade que vem ganhando corpo no país. “Algumas pessoas me chamavam de louco, mas não me arrependo. Vivia estressado, mas, hoje em dia, só ligo o computador se tiver uma necessidade muito grande”, conta o forjador, que mantém uma oficina em Taguatinga.

Mal sabia Cléber, quando se inscreveu no reality show Desafio Sob Fogo, que as peças de computadores fariam parte do primeiro desafio do programa, cuja estreia está marcada para esta quinta-feira (13/8), às 23h, no canal History. Cléber e seus oponentes abrirão a terceira temporada da atração televisiva, criando uma faca de astronauta. 

Dos oito profissionais que disputam o título de melhor forjador, ou cuteleiro, quatro são brasileiros. Pela primeira vez, a atração dedicada ao Brasil e à América Latina terá uma mulher na disputa, a capixaba e engenheira de petróleo Juliana Baioco, moradora do Rio de Janeiro há 16 anos. A competição terá ainda dois mexicanos, um argentino e um colombiano. 

Outro brasileiro no reality show é o paulista Ricardo Vilar, que dividirá a bancada do júri com o argentino Mariano Gugliotta e o americano Doug Marcaida. A apresentação será do ator argentino  Michel Brown. Os oito episódios foram gravados no México e vão desafiar os especialistas a criarem facas em formatos diversos e com materiais inusitados, em poucas horas, sob intensa pressão e altas temperaturas. Entre as armas que serão produzidas na temporada, estão ainda a adaga tuareg, o punhal romano e a faca de anel celta.

Nas duas primeiras temporadas regionais, o Brasil levou a melhor com as vitórias dos gaúchos Tom Silva, em 2018, e Daniel Jobim, em 2019. Será que o prêmio de US$ 10 mil virá novamente para o Brasil? Só assistindo a temporada para saber. 

Desafio

Sem dar spoilers, Cléber Melo diz que ficou bem nervoso ao saber que havia sido escolhido para competir no reality show. Também conta que a sua participação no programa lhe trouxe a oportunidade de conviver com pessoas de outras nacionalidades e culturas, que se uniram pelo amor à cutelaria. “O melhor foram as amizades construídas”, afirma ele, já desmistificando a rivalidade que esse tipo de atração televisiva costuma insinuar nas edições dos episódios. “Temos até um grupo de WhatsApp para mantermos contato”, revela. 

Enquanto aguarda o desenrolar da trama, o brasiliense segue bolando as facas que fazem a cabeça de chefs de cozinha e apaixonados por churrasco. Somente em 2019, ele produziu 96 peças de forma totalmente artesanal e personalizada. Um de seus clientes é cozinheiro Tonico Lichtsztejn, um dos maiores especialistas em churrasco da capital federal. 

Por conta da pandemia da Covid-19, as aulas de Cléber para quem desejar forjar sua própria faca estão suspensas. Mas a atividade no ateliê não pára. Um dos projetos aos quais vem se dedicando e desafiando seus conhecimentos é a linha de facas para professor de gastronomia Sebastian Parasole. 

O conjunto tem cinco modelos inovadores e um deles terá caráter social, com renda revertida para a Iniciativa Bandoneón. A ação do gastrônomo argentino leva técnicas de cozinha e novas formas de olhar os ingredientes à merendeiras da rede pública de ensino, de forma gratuita.  

A primeira mulher

A notícia de que seria a primeira participante mulher do Desafio Sob Fogo Brasil e América Latina foi surpreendente para a capixaba Juliana Baioco, de 34 anos. Engenheira de Petróleo e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela começou a desenhar facas influenciada pelo reality show

Há um ano e meio, foi a Rio Grande do Sul para o primeiro curso, com o especialista  Ismael Biegelmeier. Daí em diante, ela vem se dedicando à produção artesanal, mas somente aos fins de semana. O espaço da oficina é dividido com uma marcenaria, o que resulta em utensílios ainda mais personalizados. “Sempre tratei a cutelaria como um hobby, nunca pensei que viraria uma profissão. Meu intuito maior é o prazer de me sentir capaz, de passar pelos processos e transformar o aço”, conta ela. 

No entanto, a exposição na TV já tem trazido novos clientes. “E o programa ainda nem começou”, analisa. Sobre a sua participação, ela conta que se sente feliz em representar as mulheres num ambiente ainda dominado pelos homens. Também afirma que a experiência lhe agregou muito autoconhecimento. “Temos uma capacidade muito maior do que imaginamos. Quando nos colocamos num ambiente de pressão, conseguimos ainda mais força para entregar o nosso melhor”, comemora. 

Para Juliana, a popularização da forja e a atração das pessoas por facas artesanais tem a ver com a cultura do churrasco, bastante disseminada no Brasil e que vem se tornando cada vez mais profissional. Mesmo assim, ela não pensa em largar o trabalho na universidade para se dedicar exclusivamente ao ofício. No entanto, tem como projeto, inserir a forja de alguma maneira no mundo acadêmico.

Sobre os participantes brasileiros

Juliana Baioco, 34 anos – ES

Professora de Engenharia de Petróleo na UFRJ e praticante de esportes radicais. Interessou-se por cutelaria por meio de Desafio Sob Fogo e passou a se especializar. Encarou a competição como uma grande realização pessoal.

Cléber Melo, 42 anos – DF

Largou a carreira de Gestão de Tecnologia para tornar-se cuteleiro profissional. Recebe encomendas de todo o Brasil, de pedidos simples a facas personalizadas, com materiais nobres.

 

Milton Rodriguez, 59 anos – PR

Caminhoneiro e autodidata. Começou a produzir faquinhas de serra e vendê-las na estrada e em bares, à noite. Montou sua oficina em casa e, hoje, tem loja virtual para vender suas peças, 90% delas sob encomenda.

Sandro Boeck, 45 anos – RS

Deixou a advocacia para se dedicar à cutelaria e hoje tem uma fábrica de facas. Atua como juiz em feiras especializadas em todo o Brasil, desde 2015. É mestre cuteleiro na Itália CIC e Jorman Smith pela American Bladesmith Society – EUA.

 

 

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