Comida e bebida

Trust: o que eu achei do restaurante com cabines isoladas

Trust: o que eu achei do restaurante com cabines isoladas

Quem me acompanha pelas redes sociais, especialmente pelo Instagram, sabe tenho saído de casa praticamente uma vez por semana desde 19 de março, especialmente para ir a supermercados e farmácias, ou para levar alguma consulta médica. Nesse período, também estive na abertura da programação do Festival Drive In, no qual não precisei sair do automóvel.

Daí que a notícia de um restaurante com cabines isoladas e, ainda mais, à beira do Lago Paranoá, me animou. E o convite da marca de cerveja Stella Artois para compor a noite de avant première foi a deixa para me arriscar numa saída mais “radical”, mas cercada de vários cuidados proporcionados pelo Trust, o local em questão.

Como eu sei que meus leitores, seguidores e ouvintes estão curiosos para saber sobre o restaurante e o que achei, eis aqui o meu relato.

Como é a experiência

Ao chegar à portaria do Clube Cota Mil, onde o restaurante está instalado, todos os passageiros do carro têm a temperatura aferida. Após estacionar e descer a rampa que dá acesso ao salão de festas do clube, duas pessoas te recepcionam. Claro que é preciso estar de máscara para chegar até aí.

Enquanto uma atendente passa as instruções para que o cliente esterelize seus sapatos no tapete especial, outra confere novamente a temperatura de cada comensal. Depois é passar álcool gel nas mãos em um totem com acionamento por pedal e seguir outro atendente que o leva até a sua cabine. Antes de entrar, mais algumas instruções, inclusive sobre o aparelhinho com tecnologia de luz infravermelha para esterelizar celulares e bolsas, principalmente. Este fica com o cliente até o final do serviço.

Existem opções de cabines bem em frente ao lago, cobertas e com capacidade para duas pessoas; e no gramado, com face superior aberta e quatro lugares. O cliente pode escolher onde quer ficar previamente quando faz a reserva pela Bilheteria Digital.

A decoração é bem austera e faz todo o sentido, para facilitar a sanitização do local após o uso. Mesas e cadeiras em madeira e sousplats em rattan tentam imprimir uma certa sofisticação. O ambiente é confortável, passa a sensação de segurança e é menos claustrofóbico do que imaginei. Senti falta do álcool em gel na mesa, conforme indica o decreto de 2 de julho que autoriza o funcionamento de bares e restaurantes, o ue foi justificado Maurício Rodrgues, um dos sócios e idealizadores do Trust. “Como o cliente higieniza as mãos na entrada e também quando vai ao banheiro, optamos por disponibilizar o item nos 15 balcões de apoio dos atendentes, em frente às cabines. Estes podem ser solicitados quando o cliente quiser “, afirma ele.

Isolamento

Em um dos lados da cabine há um interruptor para acender uma luz e chamar os atendentes quando necessário. Eles não entram no espaço isolado e os pedidos são entregues numa tábua longa. Os clientes, então, precisam retirar os pratos dessa bandeja e colocar na mesa, o que, diante das circunstâncias provocadas pela covid-19, não é nenhum bicho de sete cabeças. Por falar no atendimento, é preciso ressaltar que todos são muito educados e prontos para tirar as dúvidas com muita prestreza e polidez.

Mas um detalhe me chamou a atenção ao ver as informações sobre as reservas: a casa cobra R$ 11 por pessoa, para cobrir custos com a higienização. Nas redes sociais, o assunto já gerou polêmica. “Optamos por não embutir esse valor no cardápio, para deixar clara a cobrança”, afirma Maurício. A justificativa para esse valor é o tipo de sanitização especial e acima do que prevê o decreto, realizada nos espaços.

Os banheiros funcionam no salão interno do clube e é preciso ir de máscara. Ali, uma pessoa fica de plantão para higienizar o que for usado com álcool líquido e em gel. A orientação é de que as mãos também sejam higienizadas com estes produtos após o uso dos toaletes e a lavagem com água e sabão.

Já a música, por enquanto, é mecânica, sem uma playlist especial. Na noite em que estive lá, foi baseada em MPB. A ideia, de acordo com Maurício, é conseguir liberação para um DJ ou música ao vivo em breve. Acredito que esse esforço tornaria o ambiente mais intimista e agregaria bastante à experiência.

Resumindo até aqui: eu me senti bem segura no ambiente e creio que essa experiência possa ser replicada em outros lugares e mesmo depois da pandemia, com alguns ajustes de formato. Então, em relação à segurança, visual privilegiado para o Lago Paranoá e atendimento, valeu bastante a visita.

O menu

Num primeiro momento, achei o cardápio pequeno, mas como tenho pensado muito em como será a realidade pós-pandemia, entendi que é totalmente justificado. Nesse novo cenário, ter um estoque com muitos itens é uma ameaça ao negócio. Fora a logística que se torna mais complicada. Aliás, podem ir se preparando para menus muito mais enxutos daqui para frente em qualquer tipo de estabelecimento de alimentação.

Couvert e camarão empanado com molho tártaro

No entanto, a redução no número de pratos não precisa esbarrar na falta de criatividade. Para Maurício, o cardápio entrega gastronomia contemporânea com opções de peixes, carnes e massas capaz de agradar a todos os paladares. Embora se ancore num porto seguro, eu acredito a ementa sem graça e ultrapassada.

Ora, estamos falando de um novo normal, de um projeto inovador, que propõe uma experiência única, então acredito que o menu deveria traduzir tudo isso.  Maaaas, como eu sou chata com essa coisa de conceito, conversei com outras pessoas que estiveram na noite de apresentação e elas me colocaram a mesma opinião. Ou seja, não estou sozinha nesta.

É bom frisar que não há acho problema algum oferecer filé, camarão, salmão, bacalhau e massa. Esses ingredientes podem compor pratos excepcionais e até inesquecíveis com um pouco de empenho. Mas aqui  eles compõem fórmulas batida, cansada, sem inventividade. Mas essa ainda não é a questão central. Na verdade, o que me preocupa é execução X preço.

A comida

Massa recheada com queijo e bacalhau com batatas ao murro , brócolis, azeitonas e alho laminado

As entradas passam por camarão empanado com molho tártaro, algo que a gente vê desde os anos 1990. O item é batido, mas foi o que mais gostei. Estava crocante e o molho tinha certa acidez e cremosidade. Custa R$ 48 com 10 unidades do crustáceo.

Já o couvert segue o padrão: fatias de ciabatta, pimentões no azeite, caponata, mozzarella de búfala (que estava rígida) e azeitonas. Sai a R$ 33 para duas pessoas também.

Ainda há uma terceira opção, o arancini recheado com bacalhau (R$ 45), descrito como “esplêndido”. Não provei este porque não estava no menu especial da avant première.

Dos sete principais, provei três. O filé com molho de vinho e risoto de parmesão está presente em muitos restaurantes da cidade e não ficou de fora aqui também. Mas a carne veio bem fora do ponto, o molho precisava de mais redução e o arroz estava sem graça, cozido e denso demais. Não achei que vale os R$ 95 assinalados no menu.

Já o bacalhau com batatas, lâminas de alho e brócolis pede uma cocção mais cuidadosa. Um azeite aromatizado com ervas e um toque de limão, ou outro elemento ácido, traria alegria ao prato e justificaria os R$ 102.

Por sua vez, a massa recheada com queijo (R$ 65) não tinha o toque de damasco prometido no menu. Se este elemento adocicado estivesse ali, poderia elevar o sabor insosso e quebrar a acidez acima da média do molho de tomates.

De sobremesa, provei o strogonoffe de chocolate com nozes (R$ 24). Na verdade, a receita é uma mousse que agradaria aos paladares mais adultos se fosse elaborada com maior quantidade de cacau, o que lhe daria uma cor mais viva e dispensaria o uso excessivo de açúcar.

Em suma

Eu entendo que a casa está começando e, especialmente a cozinha, precisa de ajustes. Como vai funcionar até outubro neste local, creio que é possível fazer uma reformulação do menu para adequá-lo à proposta inovadora e entregar uma experiência completa ao cliente.

Vou torcer bastante para que isso aconteça, porque o local é, antes de tudo, seguro. També tem um visual muito bacana, atendimento solícito e simpático, e merece sucesso pela inovação, pioneirismo e investimento.

Eu voltaria? Se estivesse com vontade de sair de casa para desopilar, sim. Mas me concentraria nas entradas, nos drinques (de R$ 29 a R$ 35) ou numa garrafa de vinho (a partir de R$ 96).

E você, vai lá conferir?

Serviço:
Trust – Gastronomia Segura
Endereço: Cota Mil Iate Clube
Telefone: (61) 98454-6120
Instagram: @TrustBsb
Reservas na Bilheteria Digital

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