Comida e bebida

Restaurantes de Brasília se preparam para voltar a receber clientes

Restaurantes de Brasília se preparam para voltar a receber clientes

A vida que levávamos antes da pandemia da covid-19 não voltará a ser uma realidade. Mesmo que a vacina para este mal chegue logo, o fantasma de um que um novo vírus apareça estará sempre em nossas mentes. Nossa rotina mudou para sempre. Obviamente, as saídas de casa para confraternizar com a família ou amigos em bares e restaurantes também.

Diante das idas e vindas, autorizações e desautorizações, os donos de restaurantes de Brasília ainda não são unânimes sobre a reabertura das portas, em 15 de julho. Muitos querem esperar mais um pouco para sentir a reação dos clientes e a confirmação de que haverá a manutenção do funcionamento e queda na ocupação de leitos nos hospitais.

“Como não sabemos se será uma abertura definitiva, vamos esperar. Abrir para fechar poucos dias depois pode nos gerar um custo que não queremos neste momento. Temos uma data prevista, de 1º de agosto, para voltar a funcionar, se der tudo certo e com todas as medidas de higiene e segurança”, afirma o chef e sócio do restautante Così, Renato Carioni.

Bruna Montanaro, da Páprica Burger, decidiu manter a forma que está atendendo no momento. “Nos adequamos a todas as regras para controle de contágio do coronavírus e tem sido seguro. Para preservar a saúde da equipe, vamos mantendo a operação com delivery e take away. Não iremos abrir para consumo no local, por enquanto. Quando a situação estiver mais controlada e segura para todos, iremos retornar”, posiciona-se a empresária.

Segurança para colaboradores e clientes

Embora as entidades representativas tenham atuado na mediação com as autoridades e na conscientização do segmento, ainda há bastante medo dos proprietários. Elas passam pelas consequências de um novo fechamento, especialmente porque seus recursos estão cada vez menores e investimentos desnecessários podem ser a pá de cal para seus negócios. Enquanto esperam por dias melhores, continuarão oferecendo seus menus por delivery e take away.

O presidente do Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Brasília (Sindhobar), Jael Silva, afirma que um protocolo com as ações de prevenção foi enviado a todos os associados e não-associados. A entidade também fechou uma parceria com o Sesc para isentar os afiliados do pagamento do teste da covid-19. Embora, segundo Silva, não seja obrigatória, a testagem é uma precaução que gera segurança para os colaboradores e clientes.

Entre as obrigações dos estabelecimentos estão a eliminação de 50% dos lugares com distanciamento de 2 metros entre as mesas e limite de seis clientes por mesa. Música ao vivo, não pode. A higienização dos móveis e utensílios tem de ser regular do mobiliário e a ventilação, preferencialmente natural. Quando usado, o ar-condicionado deve ter os filtros limpos diariamente.

Os talheres devem ser oferecidos em embalagens individuais ou, se o estabelecimento preferir, descartáveis. Guardanapos, comente de papel. Também é imprescindível a limpeza frequente de banheiros, oferecimento de álcool gel nas mesas e em outros pontos do restaurante, além de uso de EPIs pelos colaboradores. Pessoas do grupo de risco que compõem as equipes devem ser mantidas em casa.

Cuidados de quem vai reabrir

O empresário Pedro Parreira mal havia inaugurado a nova unidade do Bendito Suco, na 203 Norte, quando a pandemia começou. Foi preciso esquematizar uma nova forma de trabalho, focada no delivery que, segundo ele, vem crescendo nos últimos dias.

Para a nova fase da casa, a partir de 15 de julho, ele já preparou o ambiente de acordo com as novas regras. Apenas 40% dos colaboradores foram mantidos, para evitar aglomeração. Estes terão de cumprir todas as determinações para garantir a própria segurança e a de quem tiver de conviver. Em alguns aspectos, Pedro irá além. “Vamos adotar um distanciamento de quatro metros entre as mesas. Também pagaremos pelo transporte dos funcionários para que não tenham de usar ônibus nem metrô. Caso a casa tenha espera, vamos adotar um limite de permanência, para evitar filas e acúmulo de pessoas”, conta ele.

No Cantucci e Grano & Oliva, todos os funcionários estão fazendo testes de covid-19 com frequência. Também foram imunizados contra a H1N1. “Nesse caso, qualquer sintoma mais grave de gripe, será imediatamente apontado como covid e o funcionário será afastado. Vamos colocar grupos no esquema 12/36 horas para que as mesmas equipes trabalhem junta. Assim, diminui o risco de contaminar todo mundo caso alguém contraia o vírus. As máscaras são obrigatórias em 100% do tempo e as punições são severas aos que descumprirem”, afirma Andrei Prates, um dos sócios das duas casas. Distanciamento das mesas, que já ficam ao ar livre, será intensificado. Face shields, totens de álcool em gel, tapetes sanitizantes e medição de temperatura serão outras precauções adotadas.

Cartilha e uniforme numerado

No Sallva, um guia completo foi elaborado para orientar os colaboradores. Eles também foram treinados e receberão equipamentos de proteção individual. “Além disso, reduzimos o cardápio para que as praças de preparo tenham apenas uma pessoa por bancada. Dessa maneira é possível manter a distância estabelecida e otimizar os preparos”, conta a chef Fabiana Pinheiro, do Sallva. A casa diminuiu de 250 para 80 os lugares disponíveis e contará com uma área externa para atender clientes quando o salão ficar completo.

Os outros empreendimentos localizados no Pontão do Lago Sul, assim como o Sallva, voltam a funcionar nesta quarta-feira. Todas eles seguem um protocolo de ações elaborado por uma médica infectologista. As atividades em áreas de recreação e esporte como parquinho infantil, brinquedotecas e estações à ginástica estão suspensas por enqaunto.

A preparação para a reabertura vem sendo realizada há um mês no restaurante El Paso. Mais do que uma consultoria de segurança alimentar, manipulação dos alimentos e atendimento ao público, a casa estipulou uma série de regras. “Os uniformes e máscaras dos funcionários serão numerados. Os uniformes podem ser utilizados por quatro horas e as máscaras por no máximo duas horas, sendo necessária a substituição após esse período”, revela o chef e proprietário David Lechtig.

As unidades da casa na Asa Norte e Asa Sul passaram por reforma para tornar os ambientes mais ventilados e evitar o uso de ar condicionado. O El Paso vai atender com 50% da capacidade total, mantendo a distância de dois metros entre cada mesa e as cadeiras pelo menos a um metro de distância umas das outras. Os clientes terão a temperatura aferida e limparão os pés em tapetes propriados. O álcool em gel terá displays com pedais,  e estará distribuído pelo salão. As toalhas foram substituídas por jogo americano descartável e o cardápio, por uma versão virtual.

Nos bares

Para voltar com o atendimento presencial no La Cave Wine Bar, o empresário Marco Tullio Corrêa também preferiu revitalizar o ambiente externo. Mais arejado, o espaço contará com apenas 12 mesas, disposta a uma distância maior do que a regulamentada pelo decreto. O cardápio conta com QR Code para evitar o manuseio da versão física. Álcool em gel 70% será disponibilizado nas mesas e também usado para higienizá-las juntamente com produto próprio para superfícies em madeira. “Como estamos em um centro comercial, o banheiro de uso coletivo terá uma rotina duplicada de limpeza, seguindo todos os padrões da Vigilância Sanitária”, conta Corrêa. Ele também encomendou máscaras de duas cores para controlar a troca do item pelos funcionários. Eles também terão de fazer testes periodicamente.

Assim como para muitos empresários, Marta Liuzzi acredita que reabrir as portas do bar Pinella é uma questão de sobrevivência. “Mantivemos a nossa equipe em casa o tanto quanto foi possível, e já não conseguimos mais. Adoraríamos esperar a vacina ou o perigo de sobrecarga dos leitos de hospitais passar, mas precisamos trabalhar ou vamos quebrar”, analisa ela. A empreendedora garante que adotará todas as medidas do decreto 40.939, de 2 de julho. “Também estamos capacitando nossa equipe pelo Instituto Federal de Brasília (IFB). Eles estão certificando estabelecimentos em boas práticas com ênfase no controle do novo coronavírus”, informa ela.

Marta diz que vai delimitar o espaço na área pública que lhe compete. Isso para evitar aglomeração em volta do empreendimento, que era bem comum antes da pandemia. Embora seja um bar sustentável, a casa deverá voltar a usar descartáveis, enquanto houver pandemia, no sentido de evitar o contágio. “O lugar das mesas estará marcado no chão. Isso deve evitar que os clientes as mudem de posição ou as aproximem indevidamente. Também serão definidos os lugares de espera no caixa e para uso dos banheiros. Vamos voltar com segurança e, claro, uma boa dose de positividade, fé e esperança”, diz Marta.

O tempo vai dizer

Vamos aguardar para ver como os restaurantes de Brasília se acomodarão a esta nova realidade. E se a população irá se comportar de acordo, respeitando as normas de convivência, higienizando as mãos e usando máscaras em locais públicos quando realmente se sentir segura para sair de casa.