Comida e bebida

Ele cozinha na novela e na vida real

joaquim2

Joaquim interpreta o cozinheiro Enrico, na novela Império, da Rede Globo

Enquanto durarem as gravações da novela Império, a cozinha do ator Joaquim Lopes vai ter um pouco de saudades do intérprete do Enrico. Na ficção, ele é o filho mimado que descobriu a homossexualidade do pai e se revoltou. Acabou perdendo o restaurante que tanto amava e deve aprontar ainda umas poucas e boas até o final do folhetim. Na vida real, o que o aproxima do personagem é a paixão pela comida.

Apaixonado por porco porque dele tudo se come, incluindo a barriga, a orelha e a canela, Joaquim começou sua história gastronômica na cozinha da avó, que o fazia pular da cama, aos finais de semana, às cinco da manhã, para começar o preparo do pernil que seria servido no almoço. Depois de grande, o ajudante de cozinheiro foi fazer teatro, chegou às telenovelas, mas não se engane: ele não desistiu das panelas e pensa em ter um restaurante no futuro.

O ator esteve em Brasília e conversou comigo com exclusividade. Confira a entrevista e saiba mais sobre a relação do galã das nove com a gastronomia.

Que prato você ajudava a sua avó a fazer?
O mais famoso e o que eu mais me lembro era um pernil, que ela começava a fazer às 5h da manhã. Daí, tinha de ficar regando com o tempero durante o cozimento no forno. Eu lembro que o meu pai acordava, ia para a cozinha e pedia para fazer sanduíche com lascas do pernil. A gente molhava o pão no caldo do cozimento. Essa é uma das minhas primeiras lembranças gastronômicas. Levavas alho, limão, tomilho, alecrim e cozinhava cebolas juntas na assadeira.

Você já tentou reproduzir a receita?
Nunca. A minha avó faleceu há 16 anos, então eu quero manter aquele sabor na minha memória. Talvez um dia, se sentir que é a hora, que estou preparado, eu tente repetir.

Antes de cursar a Anhembi Morumbi, você estudou artes cênicas. Como foi esse retorno à gastronomia?
Entrei para o teatro com 19 anos e me formei com 21. Em seguida, também fiz publicidade e aos 24, entrei na faculdade de gastronomia. Daí me formei com 27. Já estava fazendo teatro em São Paulo, então dava para conciliar. Quando me mudei pra o Rio de Janeiro, trabalhei no Sushi Leblon e então apareceu o convite para a minha primeira novela e precisei escolher uma entre as duas profissões. Escolhi a de ator porque eu já estava nessa área há muito mais tempo.

Você tem vontade de abrir um restaurante?
Eu espero um dia ter meu restaurante, lançar um livro com as receitas da minha avó. Isso pode ser um projeto futuro. Mas quando eu for abrir, quero ter tempo para me dedicar, cuidar do cardápio, do serviço. Eu não quero comprar um lugar e deixar outra pessoa tocando o negócio.

Seria um restaurante voltado para qual tipo de comida?
Seria de comida brasileira, essencialmente. E não seria uma cozinha muito moderna. Gostaria de fazer um restaurante com mesas normais e um grande, comunitária, onde as pessoas pudessem conversar, se conhecer e terem a comida servida em grandes travessas, como em almoços de família. Queria um cardápio que mudasse com as estações.

E como que o Enrico apareceu na sua vida? Se formado em gastronomia influenciou a escolha por você?
Não. Foi uma feliz coincidência. E, na verdade, a paixão pela gastronomia é a única coisa que eu tenho em comum com o Enrico. Eu sou o oposto dele.

Em que momentos você consegue cozinhar? E o que você costuma fazer?
Cozinho mais para mim mesmo. Às vezes, fazemos festa em casa e eu também cozinho alguma coisa. Ultimamente, eu tenho me dedicado aos molhos, estou meio apaixonado. Outro dia eu fiz um pesto genovês, que é o clássico, e uma releitura com base de nozes, mais parmesão, um pouquinho de alho e pouco manjericão e ficou muito bom. Mas o prato que eu mais gosto de fazer é feijoada, mas aquela com tudo dentro, com pé, rabo e orelha de porco, e cotequino, que é um embutido feito com a canela de porco.

Que receita você daria para quem trabalhou o dia todo e chega em casa com fome?
Fettuccine com miniberinjelas cortadas em fatias grossinhas, tomate pelado, azeitona, alcaparra e queijo fetta por cima. Precisa corrigir o molho por conta da acidez dos ingredientes e não precisa colocar sal porque eles já são salgado. Decore com manjericão e regue com azeite bom, sem medo de ser feliz.

Com que vinho você harmonizaria esse prato?
Pode ser un chianti ou um outro italiano. Tem um que eu gosto muito que se chama Palazzo della Torre*. É vinho de bom corpo e com esse macarrão fica perfeito.

*Nota da redação: O vinho Palazzo Della Torre é elaborado no Vêneto, pela vinícola Allegrini, com 70% de Corvina Veronese, 25% de Rondinella, e 5% de Sangiovese. Cerca de 70% das uvas são fermentadas logo depois da colheita. Os outros 30% são colocadas para secar e concentrar o açucar natural para, só então, serem fermentados. Daí se faz a mistura dos dois e uma segunda fermentação. Esse vinho é chamado pelo produtor de “Amarone bebê”, uma alusão ao ao método ripasso pelo qual é elaborado o Amarone. Sugere-se a harmonização com macarrão de molho intenso, risoto, aves e chouriço. Você pode comprar o vinho aqui e aqui.

0 Comments

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *